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Visita à cidade que foi planejada pela DDR na Alemanha na década de 1950: utopia no passado e declínio no presente

Por Thalita Sarlo


Durante a estadia sanduíche de doutorado na International Psychoanalytic University Berlin, estou participando da disciplina “Research and Project Workshop I”, ministrada pelos professores Dr. Thomas Kühn e Dr. Gavin Sullivan. Além de a experiência prática estar sendo muito interessante para minha formação acadêmica, os temas abordados e a oportunidade de visitar em grupo uma cidade com tanta história para realizar pesquisas são muito enriquecedores.

Nessa disciplina, estamos trabalhando sobre o tópico “civic pride” para entender a impressão dos habitantes de Eisenhüttenstadt sobre seus aspectos atuais e sua história. O objetivo é realizar entrevistas com alguns moradores da cidade, mas essa primeira visita, devido à espera de aprovação do Comitê de Ética da Universidade, foi para conhecer a cidade através de um dos “key-informants”, ou seja, um dos informante-chave para a pesquisa qualitativa. Sem entrar em muitos detalhes sobre o tópico de pesquisa em si, já que teremos resultados empíricos em breve, gostaria de compartilhar minhas impressões ao visitar Eisenhüttenstadt: a cidade que foi planejada pela República Democrática Alemã (em alemão, DDR) para ser uma cidade modelo socialista. O primeiro nome dado à cidade foi Stalinstadt, em homenagem a Stalin, um dos líderes da União Soviética.



Avenida em Eisenhüttenstadt


Saímos em grupo, alunos, professores e outros integrantes da IPU de Berlim, por volta das 8:30 da manhã, de trem em direção a Eisenhüttenstadt, e a viagem durou menos de 2 horas. Chegamos à cidade, pegamos um ônibus (que é tão bom quanto o de Berlim, na visão de uma brasileira) e a primeira parada foi na praça “Platz des Gedenkens” (em português: Praça da Memória). O informante-chave, curador do Museu local, nos apresentou a história da cidade durante toda a manhã e parte da tarde. Ele fez sua apresentação em alemão e alguns colegas ficaram com a missão de traduzir para o inglês e, no caso do professor Thomas, meu orientador na IPU, para o português.. Essa praça tem um memorial soviético para os prisioneiros de guerra de um campo nazista chamado Stalag IIIB. Abaixo do monumento, há três câmaras mortuárias com os ossos das pessoas que morreram nesse período. A praça foi um ponto muito importante durante o período socialista da Alemanha, reunindo eventos e pessoas com regularidade. Hoje, a praça parecia abandonada: não havia ninguém além de nós, e acho que, mesmo se eu não soubesse da história que se passou ali, sentiria um clima triste.



Platz des Gedenkens


Eisenhüttenstadt foi construída para ser um recomeço pós-Segunda Guerra Mundial. Este recomeço não era apenas a estrutura da cidade em si, mas também uma nova forma de vida e a promessa de uma sociedade melhor na DDR. Caminhando, pude observar que a arquitetura mantém um certo padrão de igualdade, refletindo o ideal socialista. As ruas têm nomes de grandes teóricos, como: Karl Marx, Rosa Luxemburgo, Friedrich Engels. Nos murais, em primeiro plano, estão o trabalhador e outros símbolos socialistas. O mural do prédio histórico na foto  que intitulei como “Símbolos e história da cidade” é um dos mais interessantes, contando a história de como tudo começou e simbolizando o plantio, a colheita, os frutos do trabalho, as bênçãos e a abertura para o mundo.



Prédios do segundo complexo


Rua Karl Marx


Rua Rosa Luxemburgo


Friedrich Engels (ponto de ônibus)


Mural e símbolos


Símbolos e história


Nas ruas, o informante-chave ia mostrando as lojas que hoje estão desocupadas, além de alguns prédios em decadência, como o Hotel Lunik, que foi muito utilizado no passado. Com o fim da Guerra Fria e a reunificação da Alemanha, Eisenhüttenstadt sofreu com o êxodo de pessoas e a decadência de sua importância, passando por significativas transformações. O informante-chave mencionou que hoje 30% da população da cidade vota na AfD (partido de extrema-direita da Alemanha), e que a decadência pós-reunificação poderia, talvez, explicar um sentimento de insatisfação atual.


Hotel Lunik


Muito diferente de Berlim, que é uma cidade viva, Eisenhüttenstadt me pareceu uma cidade sem vida, sem cor e fria. Na minha opinião, não é nem de longe uma cidade ruim ou feia, tampouco uma cidade que desistiu de sua relevância. O último ponto da visita foi o “Museum Utopie und Alltag” (em português, Museu da Utopia e do Cotidiano), que: “mostra a cultura, a arte e a arquitetura do cotidiano na área da tensão entre as expectativas e a realidade, entre os planos sociais socialistas e o cotidiano real. A promessa de uma sociedade melhor na DDR contrastava com a realidade da vida de muitas pessoas. O ideal foi ideologicamente apropriado e desacreditado como utopia estatal, e o Museu se dedica a essa contradição” (traduzido para o português do folder do Museum Utopie und Alltag). É muito interessante para refletir a contradição do passado e também a contradição atual, em que a Alemanha altamente desenvolvida, moderna e com um bom padrão de vida (se comparada até com alguns outros países europeus) e com uma expectativa de futuro próspero, parece não coexistir com a realidade de Eisenhüttenstadt.  

 

Na rua Eisenhüttenstadt


Propaganda Socialista


Ônibus em Eisenhutensdat


Museum Utopie und Alltag




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